terça-feira, 31 de agosto de 2010

E quem tem ouvidos para ouvir que ouça.


Digo o senhor: como um feitiço? Isso. Feito coisa-feita.

Era ele estar perto de mim, e nada me faltava.

(João Guimarães Rosa)


Eu estou bem. Sigo repetindo isso, talvez na esperança de eu mesma acreditar nessas palavras. Olha eu estou ótima. Não está vendo, consigo pagar minhas contas em dia, não estourar o cartão de crédito, estacionar dentro da vaga, fazer baliza, eu tenho feito balizas perfeitas, daquelas de dar inveja aos motoristas/manobristas/instrutores de auto-escolas, os dias amanhecem, a produtividade cresce a olhos vistos, elogios e eficiência a dar como chuchu em serra, atenção ao cliente, agilidade, capacidade de realizar tarefas diversas e ao mesmo tempo e ainda sobra tempo para fazer umas piadinhas de última hora e arrancar sorrisos de uns conhecidos em bares nunca antes freqüentados. É eu sou demais.

Embora aquele vazio permaneça ali, junto comigo, acho que ele fez promessa de só me deixar quando eu resolver deixá-lo. Acho não, tenho certeza, funciona como uma queda de braço, para ver quem desisti primeiro. Ora, competitiva ao extremo que sou, perco um braço e não dou o braço a torcer.

Sigo sonhando com você. Sigo sonhando com o dia em que nossa história vai ter início, e só paro de sonhar porque veja bem acidentes de trabalho acontecem pela falta de atenção empregada, e eu nessa fase ‘senhora eficiência’ não posso parar.

Parar é como que deixar você tomar tua dimensão real na minha vida, me fazer sair do lado seguro, e admitir. Me pego a interrogar a mim mesma, entre escolhas triviais do dia-a-dia, entre caviar e rapadura, o que faremos nós de tanto amor? Procuro sinais, o terapeuta diz: nada de prognósticos, Oasis no playlist ‘stand by me nobody knows the way it's gonna be’, Caio F. ‘Natural é encontrar, natural é perder’. Todos opinam sobre nós. E eu? Em cima do muro, aplicando a velha politica do 'só vou se você for'.

Difícil lutar todo dia contra si mesmo, sendo os sentimentos como já dizia Mário Quintana ‘pássaros em vôo’. E os meus têm voado alto. Difícil? Difícil é admitir. Fazes-me falta. Tanta, amiúde e mesquinha, e embora sigam os dias, siga a vida, eu como tudo também sigo, projetando, arquitetando e sonhando com o dia em que ‘por onde for serei seu par’.

Por Alberta de Melo

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