quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

das lembranças e de todo o resto

“..And I remember when you started callin' me your miss's...”
"..E me lembro de quando você começou a me chamar de sua moça.."
(Lyli Allen - Littlest Things)


Ontem à noite vieste me visitar amor. Sempre esperei que vieste, porque eu já estava rouca de tanto gritar em silêncio, na intenção que chegaste para me ver. Igual, naufrago sem esperanças , que grita, pede socorro, agarrado numa tábua, agarrada na tábua das poucas recordações que ainda insistem em ficar firmes comigo. Agarrada na tábua da esperança de que vieste segurar na minha mão. Lembro que quando chegaste ontem não consegui te dizer uma só palavra tal qual foi a minha surpresa e emoção ao te ver, e também não te permiti falar nada, visto quê sempre quando abrimos a nossa boca só despontam coisas sem importância e banalidades, tive receio que mesmo em sonho fôssemos exatamante o que somos. E apesar de não lembrar da tua voz tão nítida (desculpe mas ela aos poucos vai se esvaindo da minha memória) e embora sentindo saudades dela no meu ouvido, não te permiti dizer coisa alguma. Permiti-me apenas contemplar a ti por um tempo, como se todo o tempo da minha espera pelo tempo 'da gente', tivesse finalmente chegado ao fim, agradecia em silêncio. Tocava-te conferindo se tudo estava no mesmo lugar em que da última vez deixei, deixamos; teus olhos, tua boca, teus gestos, até o narizinho, conferindo se eles não tinham sido alvo de retalhe. Não me perdoaria se tivessem podado teu melhor.
Vieste me ver ontem e lembrei o quanto tua presença ainda impera por aqui e mais insano do que admitir que fazes a diferença, é negar o sentimento dentro mim que cresce abafado, igual a semente cheia de terra por cima.
Perco-me nas poucas recordações que ainda me restam, mas a lembrança da tua voz me chamando, essa tem vontade própria e teima em cair no esquecimento, não consigo me lembrar dela e isso tem sido uma tortura, é como aquela música que a gente gosta tanto que já cantou tanto, já tocou tanto no ouvido, mas em dado momento não conseguimos lembrar-se da letra, talvez porque ela ficou um tempo fora da playlist, ou como talvez aquela imagem que vai sumindo porquê a visão já cansada não consegue abranger a distância que estabeleceu-se.
E que distância. Tua fisionomia, teus gestos, tua voz, parece que tudo tem vontade própria e tem teimado em querer ir embora de minha mente; eu tento, mas sou só eu contra tudo.
És a melhor lembrança e das melhores lembranças eu não posso esquecer.
Embora, quando acordei não estavas mais aqui, acordei disposta a fincar o pé e bater de cara contra a vontade própria das minhas lembranças de irem embora, e se tu vieres visitar-me mais vezes me ajudarás a não esquecer de ti no que te é mais fiel. Teu olhar, tua voz e teus gestos.

Por Alberta de Melo

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